Na era Pós-Moderna, a qual nós, cristãos do século XXI, brasileiros, vivemos, há inúmeros sinais, os quais inequivocamente demonstram que estamos sob o juízo de Deus. A palavra de Deus fala: “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor” (Sl 33:12a). Ora, não precisa ser nenhum gênio para perceber rapidamente que no país do “jeitinho” estamos mui aquém de ter zelo pelos ensinamentos de Deus, bem como de O considerarmos como verdadeiramente Senhor de nossa nação.
Se o profeta Isaías estivesse vivendo esses dias, certamente ele iria proferir o mesmo julgamento que bradou para o povo de Israel quando estes estavam se corrompendo demasiadamente: “Ah, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram para trás” (Is 1:4).
AS MAZELAS ESPIRITUAIS E SOCIAIS DE UMA NAÇÃO CAÍDA
Irei elencar, sucintamente e sem me delongar por cada ponto, algumas dessas mazelas espirituais e sociais proeminentes no nosso contexto atual, destacando, no entanto, a última; e trazendo uma perspectiva principiologica bíblica do pastor puritano, inglês, Richard Baxter (1615 – 1691) que, em face dessa confusão ética, moral e religiosa, mostra a unidade do povo de Deus – ou seja, da igreja invisível de Cristo — como norte e força motriz para enfrentar tais dificuldades e, portanto, ser sal na terra e luz em mundo obscuro e caído em virtude do pecado (cf. Mt 5: 13-16).
O relativismo impera: as ideologias humanas pervertem os valores da sociedade, apregoando, destarte, que cada pessoa pode ter a sua própria verdade, e que todo pensamento pode ser desconstruído, porquanto o homem é a “medida de todas as coisas” – e não Deus;
O cristianismo bíblico é veementemente atacado: a apostasia é difundida escancaradamente nos púlpitos e seminários teológicos que outrora eram comprometidos com o zelo pela palavra de Deus, através de suas multifacetadas expressões, tais como, o liberalismo teológico – que nega a autoridade das Escrituras como sendo a palavra de Deus –, o teísmo aberto – que apregoa, em suma, que Deus fez o mundo, mas está distante dele –, entre outras teologias heterodoxas.
As seitas e heresias se propagam numa proporção descomunal: “Macêdos”, “Waldomiros”, “Agenores” entre outros corifeus da cura e prosperidade, têm comercializado um falso evangelho e mercadejado a fé com um povo que perece por falta de conhecimento (Os 4:6) ou que buscam o hedonismo religioso, isto é, uma vida de prosperidade financeira e prazeres terrenos.
Pois bem, agora destaco mais um ponto, o qual, certamente, faz com que o Senhor tenha repúdio a muitas de nossas condutas como membros do corpo de Cristo.
Debates doutrinários infrutíferos entre os cristãos: primeiramente, deixo bem claro que não critico o debate construtivo, edificante e fundamentado em premissas das Escrituras, afinal, eles foram e são essências na historia da igreja — notadamente, quando visam extirpar falsos ensinamentos e heresias que vão de encontro ao verdadeiro evangelho –, mas sim a forma e às consequências de alguns debates que os cristãos se envolvem, porquanto ao invés de haver uma exposição saudável de argumentos, há de fato, muitas vezes, uma ruptura e fragmentação no corpo de Cristo, ocasionados em virtude de deboches, desdém, intrigas, soberba e até achincalhamentos. Ora, em muitos debates teológicos, irmãos que convergem em questões essenciais à fé cristã — tais como: a doutrina da Trindade, a deidade de Jesus, a salvação somente por meio de Cristo, a doutrina do pecado original –, acabam se tornando praticamente inimigos religiosos.
Em face do último ponto elencado, a consequência logica nada mais é senão prejuízo para o corpo de Cristo, ou seja, a Igreja. Esta deveria se fortalecer em vez de enfrentar debilidades, uma vez que é sua missão pregar o evangelho e influenciar virtuosamente um mundo que jaz no maligno (1 Jo 5:19).
A PERSPECTIVA DE UNIDADE DA IGREJA DE RICHARD BAXTER EM 1 CO 12
Os puritanos foram cristãos notáveis na história da igreja, mormente por terem um especial zelo pela palavra de Deus, bem como uma busca implacável pela aplicação da palavra na vida prática, isto é, uma ênfase na vida santa e piedosa que glorifica a Deus (1 Co 10:31). Richard Baxter, pastor inglês do século XVII, integrou esse rol de gigantes da fé. Foi um eminente pastor e evangelista. Sua obra “O pastor Aprovado”, exemplifica uma vida piedosa voltada para a santidade e ministério pastoral, obra esta que inspira e edifica até hoje muitos pastores e líderes cristãos ao redor do mundo.
Baxter, todavia, também tinha outra característica peculiar, a saber: uma grande motivação para reconciliar às divisões cristãs de seus dias. Certamente, sabia a importância da unidade orgânica da igreja. Como Paulo asseverou em 1 Co 12:12 que “assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também”, o Pastor Aprovado sabia que deveria zelar pela comunhão dos santos. A busca pela integridade e unidade na igreja é para que “não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros iguais cuidados uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele (1 Coríntios 12:25,26)”, afinal somos membros de um só corpo – o corpo de Cristo!
Essa característica de Richard Baxter, contudo, não implica em dizer que ele era condescendente com práticas e doutrinas consideradas equivocadas e errôneas pelos protestantes. Pelo contrário; ele galgava a unidade com a finalidade de difundir o Evangelho verdadeiro, o qual prega Cristo crucificado como nosso único Salvador. Inclusive, ele foi expulso da Igreja da Inglaterra quando se recusou a assinar um Ato de Uniformidade que obrigava os pregadores puritanos usar a liturgia anglicana nos cultos. Vale ressaltar, também, que mesmo tendo sido proibido de pastorear, ele continuou escrevendo e pregando; sendo perseguido, acabou preso por três vezes.
No livro “Servos de Deus – espiritualidade e teologia na história da igreja” o pastor e escritor Franklin Ferreira dedica um capítulo especial à vida e ministério de Baxter. Ainda sobre a busca de Richard em prol da unidade dos cristãos, Ferreira fala que:
“[…] o senso de unidade e diversidade no corpo de Cristo deveria estender-se às outras igrejas que também confessam a fé evangélica básica. Estas comunidades devem ser vistas como congregações companheiras na igreja universal do nosso Senhor, pois, em suas palavras [de Baxter*] ‘em coisas essenciais, unidade; nas não essenciais, liberdade; em todas as coisas, caridade’.”
CONCLUSÃO
Como cristãos – assim como o fizeram os puritanos — devemos zelar pela pureza da igreja. As doutrinas e princípios elementares do evangelho jamais podem ser negociados ou relativizados. Como disse Lutero, “É melhor ser dividido pela verdade do que ser unido pelo erro”. No entanto, em questões periféricas da fé, podemos respeitar opiniões diversas das nossas, sem, contudo, comprometer o zelo e o que é essencial, a saber, às verdades concernentes a Jesus Cristo, que é o cabeça da Igreja e requer a unidade do seu povo.
Reitero, portanto, que, sacrificar a unidade e pensamentos convergentes em virtude de sentimentos pecaminosos, relacionados ao ego humano, à soberba e à vaidade, é um suicídio missional para a igreja. Hodiernamente, sobretudo no contexto brasileiro, os cristãos sinceros têm mais é de se unir para impactar positivamente a nossa sociedade e pregar o evangelho, a fim de suprimir toda influencia mundana e diabólica que se levanta objetivamente contra os princípios, valores e virtudes inerentes à palavra de Deus!
*Grifo nosso
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Baxter, Richard. O pastor aprovado. São Paulo: PES, 1989
Ferreira, Franklin. Servos de Deus – espiritualidade e teologia na história da igreja. São Paulo: Editora Fiel, 2014